sexta-feira, setembro 24, 2004

A blogosfera tem destas surpresas. E se houvessem prémios o blog deste nosso conterrâneo ganhava um de certeza. Às vezes, passamos tanto tempo a olhar para os nossos umbigos que nos esquecemos de olhar para as estrelas. E elas há-as muitas e variadas, sós ou juntas em constelações. Talvez o astrónomo me ensine a olhar para o céu quando me aguentar nas canetas. Até lá, tenho de me contentar com as estrelas que a minha mãe desenhou na parede do meu quarto: não brilham tanto como as outras, mas são lindas como ela. Manel

quinta-feira, setembro 23, 2004

Descobri um desenho da minha mãe num blog cá da capital. Até aqui tudo bem. Eu até sei – já quase há um ano – que ela faz uns rabiscos, agora que tinha um blog é que é uma novidade para mim.

Ainda por cima, foi preciso ler os blogs da concorrência para saber da marosca... É claro que lhe disse logo que achava que ela era muito preguiçosa; com um blog tão giro e uma ideia tão engraçada, não mete lá nada há muitas luas.

Já podia ter posto, aquelas coisas que as minhas amigas joana e kika fazem para pôr nos dedos e nas orelhas que são muita nice.

E fotos?! há para aí muitos bate-chapas que fazem bué de retratos fantásticos. Isto para não falar das fotos que ela está farta de dizer que vai fazer na oficina do mestre Passita e do Mestre Manel.

Ainda por cima, depois desta conversa toda, ainda tem a lata de me dizer que não se lembra da password. Com uma mãe destas, se eu sair despassarado, depois não me culpem... Manel

terça-feira, setembro 21, 2004

Esta foi a minha primeira Feira Franca. E devo dizer que gostei. Aliás, quando a coisa me deixava de interessar, a chucha e a fralda entravam em acção e lá passava pelas brasas uns bocaditos.

Algumas notas sobre a Feira:

1. Mais uma vez, o sr. Francisco Alexandre conseguiu surpreender-nos; a ideia das ferramentas é uma espécie de dois em um: dá para admirar a qulidade do seu domínio técnico na arte de esculpir a pedra e ajuda a preservar a memória de instrumentos de trabalho, alguns deles já em desuso. No entanto, as peças em Madeira – novidade absoluta – é que me encheram as medidas...

2. A Ana voltou a ocupar o espaço do Posto de Turismo. E desta vez também mostrou que é uma rapariga que gosta de desafios: O desenho deixou de ser rei e senhor e entre os trabalhos apresentados, apareceram óleos sobre telas.

3. A exposição de fotografia apresenta uma qualidade média muito boa. Foi de certeza difícil escolher os premiados. Foram aqueles, mas outros podiam ser. Como continua aberta, se não passou por lá na Feira Franca, ainda lá pode ir cuscar.

4. Num espaço pequeno mas muito bem organizado, foi possível «Olhar o Tempo» e fazer uma «Aproximação ao Património Arqueológico de Avis». Devo confessar que foi o espaço que mais me tocou. Não tanto pela quantidade e qualidade dos achados expostos, mas porque percebi que existe gente nova em Avis que está a ser iniciada – no âmbito do Clube de Arqueologia – nesta aventura que é tentar perceber o passado através de pequenas (ou grandes...) pistas que foram ficando por aí «semeadas».

5. As tascas estavam o costume: tudo como dantes, quartel general em Abrantes... É certo que há constragimentos de espaço que levam a ir para soluções culinárias mais fáceis. E o frango assado até se come bem. Mas se queremos que cada vez mais gente nos visite, tem de haver uma aposta continuada na cozinha tradicional da Região. É pena ver que o esforço para promover, por exemplo as Migas – que o ano transacto foram objecto de um festival – não é depois aproveitado para serem apresentadas como uma oferta diferenciadora do concelho.

6. Os espectáculos são o que são. O profissionalismo de Abrunhosa foi o que se estava à espera; os Fingertips, de ainda pouco conhecidos, foram para muitos uma desilusão; e o Ballet da Bielorrússia cumpriu as expectativas a cem por cento.

7. Será possível melhorar a Feira? Deve manter-se no mesmo local, cumprindo a tradição, ou deve estender-se a outros lugares da vila, criando vários polos de animação? Deve continuar a ser só três dias, ou deve estender o seu calendário, como por exemplo fazem no Crato?

Vou pensar nestas questões e, num próximo post, direi de minha justiça. Manel

quarta-feira, setembro 15, 2004

Isto dos blogs é como as cerejas: quanto mais «pósto», mais apetece postar...

Aproxima-se, rapidamente, (amanhã às 18h30m) mais um jogo do glorioso. Desta vez, calhou aos eslovacos o previlégio de receberem na sua terra o clube mais popular de Portugal e arredores. Ontem jogou o FC Porto e até nem começou mal. Apesar de tudo, o empate permitiu-lhes amealhar um precioso ponto e só no fim é que se fazem as contas.

Agora o que eu estranho é o telemóvel do meu pai não ter tocado a dar sinal de mensagens no fim do jogo. É que já estava habituado a ouvir, primeiro vários toques e depois os comentários – impublicáveis – do velhote...

Com tantos portistas que há aqui pela terra, corre-se o risco do xanax esgotar na farmácia. Não desesperem, afinal de contas, ontem, vários ex-portistas sairam vencedores: Mourinho, Ricardo Carvalho e Paulo Ferreira, no Chelsea; e Deco, no Barcelona. Ai que saudades, ai, ai..
Antes de mais, é «politicamente correcto» dar as boas vindas ao «politicamente incorrecto». No entanto, quer me parecer que tem de se esforçar mais para fazer jus ao título do blog.

Afinal de contas, infelizmente, dizer mal de políticos e da política a torto e a direito, é o pão nosso de cada dia. Logo, de tão usual, tem pouco de «politicamente incorrecto».

Acho até que nos nossos dias, ser incorrecto é defender a actividade política (não confundir com políticos incompetentes ou corruptos) e tentar trazer os cidadãos para a discussão dos problemas que lhe dizem respeito.

Mais do que discutir nomes ou siglas o que importa é discutir temas e estratégias.

E a poesia de José Régio pode ajudar-nos a isso:

"Vem por aqui" - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre a minha mãe

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou - Sei que não vou por aí!