domingo, setembro 28, 2008

sábado, setembro 27, 2008

Benfica-Sporting – ficção ou talvez não...

Existe uma terra, no Alentejo que tempos não muito distantes, os adeptos destas duas equipa se juntavam no Café Central nos dias dos grandes jogos. Quer dizer: juntavam-se todos os dias, mas, nos dias dos «grandes jogos» - e entenda-se «grandes jogos» como «benficas-sportings» - a verbe estava mais aguçada. Era de esperar uma picadela daqui, uma boca mais atrevida dali... enfim, situações próprias de um dia clássico.
Os tempos passaram e os «lampiões» – como no país, maioritários na vila – resolveram fundar uma casa do SLB na terra. Os «lagartos» mais empedernidos juraram a pés juntos nunca os pôr em tal sítio. Conheço alguns que até hoje cumprem a promessa: por exemplo o pintor. Mas, outros há que até se fizeram sócios do ninho da águia (o bancário, o coifeur, o segurador...) sem nunca renegarem à sua condição clubística.
Razões de mercado (expressão em voga que quer dizer uma data de coisas que normalmente não são boas...) levou ao aparecimento de um novo café (A miragem) onde, pouco e pouco, os sportinguistas órfãos de sítio, se foram acoitando. Sportinguistas e não só: existe uma «raça» que tende a passar, rapidamente, do azul para o verde e que se chamam – a eles mesmo - «belenenses».
A ironia disto tudo é que o proprietário é benfiquista ainda antes de ter nascido. E tem coração mole e, pelos vistos, a carteira vazia. Já não é a primeira vez que perante dois jogos ao mesmo tempo em canais diferentes, opta por pôr os «lagartos» na tv a dar chutos na bola, e os acontecimentos artísticos – que são sempre os jogos do benfica – ficam escondidos atrás da pantalha, para desespero dos, ainda assim, muitos clientes benfiquistas. É claro que hoje esse problema não se põe, já que as duas equipas se confrontam, mas não deixa de ser um problema.
Como é que o taberneiro «garrafinhas» vai saber, a cada momento, qual a correlação de forças presente no seu estabelecimento e optar por um, ou por outro desafio?
FÁCIL ! Basta instalar à porta um «verdómetro». Cada vez que der entrada um «lagarto» a maquineta apita e ele aponta, quando sai apita outra vez e desconta. Quando começar o jogo, basta conta os pés existentes no estabelecimento, dividir por dois e descontar o número apontado. Se o resto for maior, vê-se o «glorioso». Nunca falha, até porque os adeptos dos outros clubes, não têm direito a voto...



E agora o quê?!...

Este agora, entre o evasivo e a ameaça, deixa espaço à imaginação. Aceitam-se apostas e eu faço já as primeiras:

agora... quero que se lixem que eu vou ver o benfica-sporting
agora... vou chamar o correio da manhã e a tvi e fazer um «ganda« escândalo
agora... vou dar uma entrevista à «A PONTE» onde vou contar tudo de fio a pavio
agora... vou para carcavelos, que era de onde nunca devia ter saído
agora... vou «pôr-lhes um processo em cima» como fazia o Herman José
agora...

quinta-feira, setembro 25, 2008

Quem conta um conto...

Mar Seara

De nada lhe serve a boina com o sol a marrar de frente. Entre o monte e a povoação não há chaparro que lhe possa valer. Tudo descampado. Apesar da hora o magano já queima, mas tem mesmo de ser. A camioneta não espera por ninguém, e Zé Galhofa não quer perder esta viagem por nada deste mundo.
Foram anos e mais anos a sonhar com o assunto. Sozinho no campo, à volta com a bicheza, mal tinha tempo para, uma vez por mês, ir à vila ver do avio, quanto mais folgazar um dia inteiro numa passeata. Agora era diferente. Reformado, viúvo, com os filhos desmamados, podia-se dar ao luxo de aproveitar as viagens organizadas pelo presidente da Junta para os velhotes espairecerem.
É certo que a pequena courela e a meia dúzia de galinhas, coelhos e o bácoro para sustento próprio ainda lhe davam luta, até porque a reforma, apesar de bem vinda, ia-se toda no «raio dos medicamentos». No entanto, quando voltasse «lá pela tardinha» ainda viria muito a tempo de lhes dar a ração e regar os nabiços...
Desde gaiato que sonhava com o dia em que veria o mar com «aqueles que a terra há-de comer». Quando foi às sortes ainda esteve tentado a oferecer-se para a Marinha, mas o pai cortou-lhe as pernas: «Nem Marinha, nem farinha. Não penses nisso que fazes por cá muita falta. A mim e ao patrão»... - decretou. Depois de, em criança, ter sido seu ajuda na guarda dos porcos, passaram a dividir todo o trabalho no monte. Tornava-se o serviço mais leve e era mais algum a entrar em casa.
A tropa tinha-a feito em Estremoz, a poucos quilómetros do monte onde nasceu, e daí não arredou pé até passar à peluda, continuando, assim, por realizar esse seu grande desejo, ver o mar.
Nem sabia de onde lhe tinha nascido aquela ideia. Da família não era de certeza. Tudo gente do campo, de água só conheciam os ribeiros e as nascentes das redondezas. Na escola também não fora, pois era sítio de onde nunca tinha saído... Para muita pena sua que «saber fazer o nome» ter-lhe-ia dado jeito em várias ocasiões. Mas «mais vale tarde do que nunca» e, hoje, chegara o dia. O grande dia.
Chegado ao largo, aprochegou-se da carreira. Como ainda faltavam alguns minutos para a partida, resolveu puxar da bucha e comer o almocito. Hábito antigo de horários campestres. Na vila, a esta hora da manhã, havia muita gente que nem o mata-bicho ainda tinha batido. Navalha numa mão, pão e queijo na outra. A pequenos golpes, certeiros, ia lascando o petisco. Só lhe faltava a bebida. «Logo mais bebo», pensou. Daria um salto à tasca do Garrafão e aproveitaria para se precaver para a jornada «mudando a água às azeitonas».
A rapaziada da sua idade foi arribando. Homens para um lado, mulheres para outro. As conversas eram as de sempre, próprias destas idades: «O Tóino Catrapuz lá se foi, coitado»... «É verdade, coitado. E eu também não ando lá muito bem. As cruzes não me deixam em paz. Só à força de drogas é que cá me vou arranjando»...
A viagem prometia ser curta. «Menos que um fósforo», tinham-lhe dito. Daí a nada estaria a mirar o mar. Pela janela do autocarro olhou a planície ondulante, com o vento a inventar carneirinhos nas searas. A viagem tinha começado.
A camioneta cheirava a nova, com belos bancos estofados a veludo e, vejam lá, televisão a cores. A cores! O seu velho aparelho, a preto e branco, de vez em quando, passava imagens dos grandes mares deixando-o «a modos que assarapantado»... Era como que um gosto e irritação. Tudo ao mesmo tempo. Um país com tanta costa e ele, a meia dúzia de quilómetros, sem nunca ter visto o mar.
Já não faltava tudo. A Aldeia Nova já tinha ficado para trás, e estavam agora a entrar na auto-estrada. Uma hora, mais coisa, menos coisa, estaria ao pé do Oceano.
Chico Zangado, seu companheiro de jornada, não percebia a ansiedade do Galhofa: «Ó homem, olha que água é água em todo o lado»... Pudera, tinha ido ainda novo para a Outra Banda e mar, por lá, era coisa que não faltava...
Estavam a chegar. «Por favor, não se afastem uns dos outros. O almoço é ao meio-dia no sítio que lhes vou indicar», ouviu-se nas colunas da camioneta...
Foi dos primeiros a sair. Mal esperou que a doutora fizesse as últimas recomendações. Virou as costas ao sol e encaminhou-se para poente. Rumo ao mar.
Ao virar da esquina, uma enorme maré cheia espraiou-se-lhe olhos dentro. Grandiosa. Imponente. Azul, ouro e prata.«Ó compadre, é bonito, não é ?! Tão bonito que até parece uma seara...»

sexta-feira, setembro 19, 2008

Discos pedidos (1)

Tem toda a razão o Do Castelo. Mas é por manifesta falta de tempo que não tenho vindo ao(s) blog(s). E como os desejos dos amigos para mim são ordens, aqui fica uma canção francesa da qual provavelmente, e sem desculpa, me iria esquecer. Jacques Brel (peço desculpa pelas legendas em inglês...)